segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

As eleições 2010 e o futuro do Lulismo

Retransmito abaixo o texto do meu amigo e irmão Geraldo Tadeu, publicado hoje no Jornal do Brasil.


"Nunca na história deste país, uma eleição foi tão pouco decisiva. Trata-se fundamentalmente de uma escolha sobre o estilo de governo que queremos para o país. De um lado, o lulismo, como movimento de massa, assentado na liderança carismática do presidente, e, do outro, uma social-democracia, herdeira das reformas que globalizaram o país, mas órfã de um discurso capaz de mostrar suas diferenças em relação à prática do Governo atual. Daí eleições necessariamente plebiscitárias, mas não sobre projetos políticos distintos,
mas sobre estilos e pessoas.

As eleições 2010 tratam do futuro imediato do lulismo; não do seu fim, pois este é um movimento político que veio para ficar. O lulismo é hoje um movimento nacional de dimensões comparáveis ao que representou o getulismo nos anos 1930-1964. Como outros movimentos personalistas, o lulismo é um agrupamento político que segue, de maneira sistemática, a orientação de um líder, transcendendo as tradicionais linhas divisórias de partidos e ideologias. Do alto de sua legitimidade, Lula se permite por exemplo arbitrar, de maneira absolutamente autônoma, a disputa sobre sua sucessão, tirando da cartola uma candidata sem nenhuma experiência eleitoral. A candidatura Dilma Rousseff é a mais alta expressão do domínio que o Presidente exerce sobre a coalizão oficial.

Politicamente, o lulismo pratica, nas palavras do presidente, “o pragmatismo da governança”. A base aliada reúne 14 dos 19 partidos que têm representação no Congresso, o que lhe confere folgada (embora instável) maioria. Isso sem falar na atração exercida sobre os movimentos sociais, as centrais sindicais, as organizações estudantis e até sobre as associações empresariais mediante farta distribuição de recursos públicos.

Ideologicamente, o lulismo caracteriza-se por uma “opção preferencial pelos pobres” com uma ampla, variada e penetrante política social; por um desenvolvimentismo estatal que se vale do Estado e das empresas estatais para alavancar o crescimento econômico; e, na seara externa, por um discurso do “Brasil potência”, líder dos países em desenvolvimento, que acalenta os nacionalismos, quer de esquerda, quer de direita. É esse movimento, mais amplo que o PT, Dilma e que o próprio Lula, que será julgado em 2010.

Em face de um bem articulado movimento de massas, uma Oposição, refém da sua própria história, patina na falta de um discurso que a contraponha à retórica governista. Como não houve um “cardosismo” nos oito anos de poder do PSDB, ainda que FHC tenha vencido largamente seus dois embates contra Lula e que tenha capitaneado uma sólida maioria parlamentar, a Oposição precisa convocar todas as suas estrelas (os dois Coutinhos mais FHC e outros) para combater a popularidade de Lula. Duelo de titãs.

O debate, no entanto, travar-se-á não propriamente sobre os fundamentos das políticas (macroeconômica, social, etc.), mas em torno de saber quem teve a idéia ou de quem fez mais nessas áreas. Afinal, sobre seus fundamentos, há consenso entre Governo e Oposição.

Assim, o caráter plebiscitário das eleições incidirá não sobre projetos políticos, mas apenas sobre estilos de governo e, num segundo nível, sobre pessoas e grupos. Nesse contexto, até mesmo as “terceiras vias” disponíveis (Ciro e Marina) são também saídas do campo lulista. As eleições, assim como o próximo mandato (qualquer que seja o vencedor), dar-se-ão contra o pano de fundo do maior movimento de massas surgido no Brasil democrático, o lulismo".

Geraldo Tadeu Moreira Monteiro
cientista político, Presidente do IBPS

Nenhum comentário:

 
PageRank