quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Carta de Leonel Brizola ao ministro Carlos Lupi


Retransmito a carta que foi escrita pelo Fernando Peregrino, publicada hoje (25/02) pelo Jornal do Brasil.



Caro companheiro Lupi,

Tenho olhado daqui de cima com preocupação para este nosso Rio de Janeiro. O processo social colocou diante de nós, trabalhistas do PDT, um dilema: vamos marchar com Cabral ou com o Garotinho? Sei que para ti as coisas são mais difíceis, afinal és aquele que deve conduzir o debate interno, aparar arestas, segurar um pouco os excessos de alguns, mas sobretudo ouvir as bases de nosso partido. Mas, daqui de cima, te asseguro, consigo ver as coisas bem melhor.

Companheiro Lupi, tens experiência, e por isso entendes o quanto é difícil o político perdoar e agir sem ressentimento. Mas gostaria de dizer que é um conforto quando fazemos isso movidos pelo interesse público. Eu mesmo tive esse sentimento de alegria quando me reconciliei com nosso companheiro Saturnino. Lembras?

Olha, ambos os candidatos, Garotinho e Cabral, apoiam o governo Lula, de cuja base fazemos parte, não é verdade? Portanto, nosso apoio à companheira Dilma (lembre-me a ela) não será sacrificado caso optemos por um ou outro.

Vejamos então à luz dos fatos. Pensando bem, qual a alma do Cabral? Ele já integrou alguma vez as fileiras do trabalhismo? Que declaração fez ele de reconhecimento às realizações de Vargas e Jango em prol da classe trabalhadora? Ele não é aquele que esteve na direção do PSDB e que privatizou o patrimônio público aí no Rio? Pelo que tenho ouvido, ele gosta muito de viajar para o exterior. Aliás, outro dia, a companheira Idialeda, que acabou de chegar por aqui, me contou que o governador Cabral mandou demolir um museu projetado pelo nosso Oscar (Niemeyer)! É verdade? Museu que a companheira Rosinha havia mandado construir sobre nossa memória. Ora, ora, por que ele fez isso? Achei uma desfeita. E é ele que quer nosso apoio? Até o Cesar (e olha quem) andou fazendo um busto em homenagem a Vargas.

No caso do companheiro Garotinho, tu sabes que nas últimas horas em que estive aí na terra nos reconciliamos. Ele, muito novo, fez coisas que reprovamos, e nós, aqui e acolá, exageramos. Mas hoje ele é um político maduro, fez autocrítica, e sempre governou voltado para o povo sofrido. Ademais, tem demonstrado ser um trabalhista e defensor de um projeto de soberania para nosso país. Como eu ai na terra, bastante perseguido pela Rede Globo. Ele e a esposa dele, a governadora Rosinha.

Segundo soube, nossa base está em sua maioria contra marcharmos com Cabral. Se depois de tudo, para alguns companheiros ainda for difícil essa aliança com o Garotinho, recomende a eles pensarem no que é melhor para o interesse público. Mas sinto em ti e na maioria dos companheiros vontade de fazermos essa frente. Façam. Afinal, Getulio se reconciliou com tantos. Que tal eleger um governo republicano e trabalhista comprometido com o povo humilde de nosso estado?

Lembre-me a todos daí. Olha, Deus me quis aqui mais cedo que eu esperava. Mas em compensação tem sempre me estimulado a escrever a esse povo que sempre considerei o “farol do Brasil”!

Saudações trabalhistas!

Leonel Brizola

P.S.: Em tempo. Não te esqueças de pedir ao companheiro Garotinho para priorizar os Cieps para que nossas crianças sejam salvas das ruas e do abandono.

(*) Esta carta é uma ficção, claro. Mas procura refletir o que o autor acredita que fosse o pensamento do ex-governador e líder brasileiro Leonel Brizola.

Fernando Peregrino é mestre em engenharia de produção pela Coppe/UFRJ; ex-secretário de Estado e presidente do Instituto Republicano.


JORNAL DO BRASIL - 25/02/2010

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